sábado, 27 de dezembro de 2008

Oferenda ao Vodún na Mata.

"Une journée d'offrandes"
Uma Jornada de oferendas - de Alain Adebiyi (Tradução de Ifabimi)
Fonte:
http://aac-expositions-debats.jimdo.com/extrait_de_la_confyrence.php

Esta manhã, a vila acordou, lentamente, como em seu diário, pelo berro de cabras no cio. No entanto, este dia é um pouco comum. Toda a gente sabe, os papéis são atribuídos. Nada menos que sete deuses vodun (Orisha), será a nossa 'visita'. Cinco deles serão antes do sol estar em zênith. E depois? Proibido se fazer sacrifício animal.
Em fila única, o grupo, por um caminho muito estreito, entre palmas esparsas, mangueira esboroando Frutas, e pequenos lotes de seguidores do vodun com cultivo de mandioca, é o rumo que marchamos em frente.

Cerca de um quilômetro... Dan (a cobra-vodun) está lá. Mas onde? Um tronco morto, caído no chão, e sobre ele, como em um pequeno cache, Dan adormece. Duas garrafas de vidro, um Gozin (espécie de pequeno vaso de terracota, de estreito pescoço): este é o Dan! Ele (o sacerdote que fazia as oferendas) falou, e explicou o motivo da nossa visita, e convidou a aceitar a oferta como um sinal de agradecimento ao voto de um ex-haussá. Como para todos os outros voduns, uma noz de Kola chamada 'vi' e que está dividida em quatro partes, será a voz de Dan. Para a divindade aceitar, ou não aceitar as ofertas. Aceitação houve; satisfação! O Sodabi (vinho de palma), refrigerantes açucarados, uma galinha e um galo sacrificados, cujo sangue é misturado com azeite-de-dendê (zomi), bolachas, mel, feijão vermelho preparado: Dan é reputação. O grupo, então, retorna feliz com o dever cumprido.

Voltamos, mais tarde para recomeçar, dessa vez para o Salvar Gu (Ogun). Gu é o Deus do metal, patrono dos ferreiros e Deus da guerra. Os adeptos de Gu não são os mesmos de Dan, e o cerimonial muda um pouco, inclusive Gu não recebe o Sodabi (vinho de palma), as lendas proíbem, e o bom senso em comum: Um Deus da guerra inebriado pode realmente correr um grande risco!

Agora, vem a vez de louvar Hohovi (Ibeji; Hoho), o culto dos gêmeos. Ao contrário de outros voduns que estão sobre o chão, Hohovi foi levantado em um 'altar' de cimento - grandes blocos em paredes lisas. Sobre o prato, muitas gravações e incrustrações, cujas formas nos lembram dos gêmeos. Por último as oferendas, eles voltam a beber e a comer. Quatro porções de kola indicam claramente que Hohovi têm fome e sede. Jamais álcool para gêmeos, mas: Refrigerantes, bolachas, sangue vermelho misturado com azeite-de-dendê, e a farinha de milho especialmente avermelhada com dendê, sal que é salpicado por cima, e os depenados, onde se usou um ritual específico.

Neste ponto, nesse mesmo dia, continuamos a agradecer, agora: Legba (Exu Elegba) mensageiro dos deuses, está posicionado entre os homens e Mawu (Obatala / Orishanla), a divindade superior. Não fomos à noite para a visita por não podermos sacrificar ao pôr do sol. Ele também aceita doações, também recebe dinheiro para o álcool, açúcar, sangue, óleo. Legba tem uma característica: O sacrifício animal deve ser comido no local, então, acendemos uma fogueira sob uma clareira; evisceramos; improvisamos e cozinhamos; e todos, em comunhão com Legba, participamos da partilha de frango magro sacrificado.

sábado, 1 de novembro de 2008

AS ÁRVORES SAGRADAS DOS VODUNS (PARTE 5)

Foto em http://www.metafro.com.be

Spondias mombin (Akikon'tin; Igi Eyè, Iyéyé ou Okika)
O cajazeiro é um atin dedicado ao culto de Fá, é cultuada pelo bokonon (aquele que é sacerdote de Fá), onde são depositados seus fetiches e oferendas rituais e seus sacrifícios são feitos, geralmente com cabritos e frangos; também é oferecido vi, ami-vovo, sodabi, etc.
O nome Akinkon'tin é Fongbe; os nagôs e iorubás chamam esta árvore de Igi Eyè (Árvore do Pássaro) por causa do Ifá (Fá), cujo símbolo é o pássaro, ou chamam de Iyéyé (mamãe) devido a utilização de suas folhas pelas parturientes; eles também conhecem esta árvore como Okika.
Em Benin as cerimônias e festividades anuais de Fá são realizadas em torno deste atin, onde são reverenciadas outras divindades como os Azètɔ́, cuja grande ira deve ser aplacada, Legba, Gun, e outros relacionados. Os preceitos do Fá são voltados a atrair coisas boas, livrando-se das más, e dos maus espíritos. O espírito “mau” aqui em referência é o desencarnado popularmente denominado “Ahovi”.
Seus frutos são muito apreciados e muito nutritivos; suas folhas tem propriedades desinflamatórias e são muito utilizadas no pós-parto sob a forma de chás e para assepsia local. O Cajazeiro, Cajazeira, Cajarana, ou Cajaeiro é muito comum no Brasil, onde seu fruto é o conhecido cajá, possuindo espécies como cajá-manga (da Cajarana); cajá-mirim; etc.

Cocos nucifera (Agon'tin; Agbon)
O Coqueiro ou Coqueiro-da-Bahia, Agon'tin entre os fons; Agbon entre nagôs e iorubás, são tipos de palmeiras que dão o conhecido coco d'água (coco-da-bahia) muito apreciados na alimentação, na produção de óleo para alimentação e indústria, etc. Da mesma forma que as palmeiras em geral, sua palha tem grande utilidade; no Brasil a folha do Coqueiro é bem evidenciada nos rituais de Sarapokan, a última saída em que o iniciado apresenta o cabelo antes de ser raspado o vodum em Jeje Mahi, em substituição às folhas ainda verdes da Palmeira Raphia, ou mesmo de Dendezeiro, então o Coqueiro-da-Bahia é considerado um recurso quando não se tem a possibilidade de acesso ao devido material.
Existem casas de Candomblé da nação de Ketu que consideram o Coqueiro uma palmeira onde habitam Ogun e seu irmão Osösi (Oxóssi), este útimo à quem pertence o fruto que lhe é oferecido em seu prato votivo conhecido por asòsò (axoxô).
Os nagôs e iorubás reconhecem a palmeira Agbon uma árvore sagrada do Culto de Ifá, onde habita o espírito de Orunmila, referido como Agborinegun, o mesmo conhecimento do bokonon no Benin, onde o Agon'tin é a árvore do Culto de Fá onde habita o espírito de Ela (Elá).

Zanthoxylum zanthoxyloides ou Fagara zanthoxyloides (Xè'tin)
Atin coberto de espinhos que é consagrado ao vodún Gédé, e plantado por ele mesmo antes de se transformar numa grande rocha em Kotokpa. Os fons denominam Xè'tin.
Há uma história que diz que Gédé fora um prisioneiro de Guerra do rei Glèlè apanhado numa de suas expedições contra os Ayonu, e que certa vez Glèlè decidiu decaptá-lo mas Gédé consegiu escapar de Abomey. Ele foi orientado por Dan a mudar sua rota de fuga e terminou em Kotokpa onde plantou o Xè'tin e se transformou em uma grande pedra, ocasião em que se une à Dan. O rei vendo tais feitos e consultando a Fá, no oráculo sagrado, passou a ser um gédenón (adorador do vodún Gédé), ocasião em que dedicou-lhe aquele local como sendo sua floresta sagrada, o gédézun.
Esta árvore é consagrada aos voduns Gédé e Dan, e a rocha que ali existe é o prório vodún que se transformou.
Recentes estudos farmacológicos vieram confirmar cientificamente a ação positiva deste vegetal no tratamento da anemia falciforme e da leucemia.


Azadirachta indica (Kininu'tin)
Oriunda da Índia onde é conhecida por Nim esta árvore é amplamente conhecida pelos fons sob o nome de Kininu'tin, existe também na Amazônia no Brasil; seus frutos possuem uma forte ação anti-bacteriana; o pó e o óleo de Nim são amplamente utilizados, assim como suas infusões, e também no preparo de sabões medicinais; é um forte repelente de insetos, e controla muitas pragas em lavouras. Sua utilização além de medicinal e repelente, é observada também nas demarcações de propriedades.

AS ÁRVORES SAGRADAS DOS VODUNS (PARTE 4)

Dracaena arborea (Ayan; Anya'tin; Agnan)
Trata-se de um arbusto muito exótico e que pode atingir uma boa altura. Conhecido em fon como Ayan; Anya'tin; Agnan /ainhã/, a Dracena é muito utilizada nos conventos de vodún sinsen geralmente decorando com suas folhas ritualísticas e medicinais (Anyama), dividindo espaços, delimitando áreas e servindo de local de adoração do vodún (vodum ou vodun) Xebioso ou Hevioso (Heviosso) do trovão. Seu aspecto decorativo chama muito a atenção do transeunte, são ornamentais em residências, dentro em vasos, nos jardins, ruas e praças, são muito comuns seus variados tipos tanto na África, quanto na Europa e no Novo Mundo.
Uma das espécies de dracena, porquê são muitas, conhecidas no Brasil e no Benin é o “Pelegun”(Peregum) a Dracaena fragrans, ou Pepelegun, termos do nagô; Folha-de-Nativo, Pau-d'água ou Pau-da-Sorte, ele é muito utilizado nestes lugares e com uso similar ao Ayan. Ainda no Brasil, atribui-se o arbusto de folhas listadas verde e amarelo ao vodun Gbesen (Dangbe) e o de cor verde ao òrisà Òsòsi dos nagôs. As de folhas verdes (Anyama) no Benin são atribuidas à divindade do trovão e envolvidas em preceitos e festividades do vodún Age, pelo menos em Abomey. Seu cacho florido possui um agradável odor exalado durante a noite que pode ser identificado à distância. Existem pessoas do culto que crêem firmemente eque este perfume exalado é capaz de afastar coisas ruins, maus presságios e maus espíritos. As suas folhas são utilizadas em muitos rituais dentro do Candomblé, desde a tradicional limpeza ritualística as iniciações de vodún, de òrisà, e muitas outras obrigações.

Garcinia kola (Ahowe'tin; Orogbo)
O ahowe'tin (Fon e Gun) ou Orogbo (Nagô e Yorùbá) é o atin do fruto muito conhecido no Brasil como orogbo e em Candomblé Jeje por ahowe. Este fruto é consumido como alimento, e utilisado nos rituais de voduns com muitas finalidades. Tem muitas propriedades medicamentosas, como no tratamento natural da diabetes, angina, icterícias, cefaléias, tipos de anemias, etc.
Esta árvore é mencionada em Fá, no dù Di Medji como a árvore dos que procuram pela fortuna, como descrito por Verger na Trajetória de Iya mi Odù do céu à terra.

Kola nitida (Gbanja; Golo; Obi Gbanjà)
Este atin dá frutos que possuem dois gomos, a cola ou “obi”, é muito conhecido no Brasil como Obi Banjá, em Fon é Golo, em Gun é Gbanja, e em Yorùbá seu nome é Obi Gbanjà. Possui propriedades medicamentosas e nutritivas, é um alimento muito apreciado, e oferecido em rituais de voduns. Da cola se obtém um extrato utilizado na fabricação de certas bebidas que são muito apreciadas e ganharam o mercado internacional. A comunidade de Allada (Ayou), pronuncia-se Ayú, é uma das comunidades que se baseiam comercialmente no plantio de Gbanja.

Kola acuminata (Avi; Vi; Obi Abàtà)
Este atin dá um obi que possui quatro gomos, algumas espécies dão de cinco, o qual é oferecido a Gu, os de quatro além de serem oferecidos a certos voduns em certos rituais, e de possuírem propriedades medicamentosas e nutritivas, também servem para consultá-los e consultar os antepassados, é o tipo mais consumido de cola no Benin e na Nigéria, seu extrato segue a mesma utilização do extrato de Kola nitida à nível industrial. A denominação que os guns lhe conferem é Avi, os fons lhe conhecem por simplesmente Vi e os nagôs e iorubas lhe denominam por Obi Abàtà ou Awedi.



Ficus umbellata (Voma)
Ficus vogeli (Vo; Obada)
São Ficus, árvores que proporcionam boa sombra e geralmente são plantadas à frente do vodunxwe (casa do culto) onde tomam cenário vários eventos como ritos de iniciação e comemoração as divindades do hunkpame. Voma e Vo são termos fons, e Obada é uma denominação Yorùbá.
A diáspora é muito rica em Ficus de várias espécies, a Mata Atlântica brasileira proporciona uma enorme variedade deles. São encontrados em ruas, praças e estradas muitos Ficus, sempre oferecendo uma boa sombra para quem passa por ali.

Parkia biglobosa (Ahwa'tin)
A poupa de su fruto é rica em sacarose e com ela se fabrica uma bebida. Suas sementes são ricas em proteínas e lipídios servindo na alimentação, no preparo de seu óleo e na confecção de sabões de uso doméstico. A fabricação de sabões com lipídios ervas e cinzas faz parte do conhecimento do vodun-sinsen. Este atin é popularmente conhecido no Benin como Néré e entre os fons como Ahwa'tin (aqüatin), é nativa nas savanas. Possui propriedades medicamentosas no tratamento natural da hipertensão, das hemorróidas e das dermatoses em geral.

Erythrina senegalensis (Kpaklesi; Hunkpasle; Ologun Sese)
Esta árvore possui folhas com ação analgésica e anti-inflamatória, é conhecida pelos fons como Kpaklesi, pelos guns como Hunkpasle e pelos iorubás e nagôs como Ologun Sese (Sheshe). É rica em flavonóides e tem sido muito estudada em laboratórios do mundo.
Como preparo do indivíduo a sociedade e reintegração à sua família, a medicina natural é importante matéria a ser ensinada no hunkpame, são conhecimentos milenares que são repassados e estão contidos em orações quase sempre cantadas para melhor serem assimiladas, assim também se canta falando das folhas; das árvores; das ervas seus aspectos litúrgicos e medicinais, quase sempre associados. A pedagogia do hunkpame no Benin é a pedagogia da aldeia, vai além do místico estando fundamentada nele, porém, não estacionada nele como na diáspora. Parte-se do princípio que ela é um preparo teórico e prático para a vida.

Moringa oleifera (Kpatimawiniwini ou Yovokpa'tin; Ewe Igbale ou Ewe Oyibo)
A Acássia-branca é popularmente conhecida entre os fons pelo nome de Kpatimawiniwini ou Yovokpa'tin; entre os nagôs e iorubás pelo nome de Ewe Igbale ou Ewe Oyibo. Muito estudada como produto natural; contém cerca de trezentas substâncias nutritivas em seu extrato seco. É uma árvore cujas folhas são comestíveis e se preparam como qualquer hortaliça na alimentação, em sopas; ensopados; etc. É um poderoso recurso contra a desnutrição, além de ser um vegetal exótico e chamar muito a atenção. Suas sementes de igual forma são ricas em lipídios e proteínas. Muitos lhe conhecem na África ocidental, comercialmente, pelo nome de Yovo'tin, corruptela do nome Yovokpa'tin. Costuma-se desenvolver mudas deste vegetal para a forragem de ruminantes e a engorda dos mesmos.
Esta árvore belíssima é consagrada a Kuyito (Kutito ou Egun), e é a morada dos ancestrais; também é venerada ali a senhora dos Eguns, Oya Igbale, local onde os ancestrais e Oya recebem suas oferendas, por isto os nagôs e iorubás lhe denomina Ewe Igbale, ou seja: Folha do Igbale, que é a morada de Egungun.
O papel de Kuyito (ou Kutito), a ancestralidade, é tão importante na preservação da sociedade para os fons de uma forma geral, aqui deparamos que a árvore que alimenta é justamente consagrada aos seus antepassados. Isto nos faz refletir sobre pensamento do homem fon, especialmente do gbe, e os valores morais e sociais de suas tradições, a continuidade de sua vida de geração-em-geração através da tradição cultural.


 

AS ÁRVORES SAGRADAS DOS VODUNS (PARTE 3)

Lagenaria vulgaris, afrikana (Cabaceiro)
Cabaceiro ou Pé-de-Cabaça, como é popularmente conhecido no Brasil, e Pé-de Coité, que é um deles, porém, a subspécie africana, possuidora de uma parte longa em sua cabaça, é que é muito utilizada como um dos atins de Legba (vodun que corresponde ao Elegbara dos nagôs), também utiliza-se da cabaça, seu fruto, para confecção de utensílios rituais, domésticos e instrumentos musicais.
Possui propriedade medicamentosa, contudo não deve ser confundida com outras espécies por possuir um nome tão popular em terras brasileiras, na qual tem origem algumas espécies de Cabaceiro.

Butyrospermum paradoxum (Karité; Limu'tin, Wugo ou Kotoble; Akumolapa)
Esta árvore é a sapotácea da qual se prepara a “manteiga de karité” que serve como alimento e no preparo da alimentação, tanto no Benin, quanto na Nigéria onde é conhecida por Akumolapa.
O karité serve de tempero ritual claro e brando para certos voduns, é nutritivo e medicamentoso, entrando no preparo de ungëntos de uso tópico misturado com outras substâncias, servindo de veículo, também é utilizado para o alívio de queimaduras leves na pele. Seu uso cosmético é muito apreciado no ocidente.
Os mahis no Brasil denominam-a limu'tin, e à sua manteiga de karité: “Limu-da-costa”.

Mangifera indica; Mangifera africana (Dangbe, Dangbe-Ahoho, Maga'tin, Amaga'tin)
A conhecida árvore Mangueira, especialmente a da espécie dangbe, é consagrada ao vodun Dangbe e considerado o seu Ahoho, em alusão ao jassu, existem árvores de Dangbe antiquíssimas em Ouidah, onde são realizados preceitos em louvor a esta divindade. Da mesma forma reverencia-se este ancestral mahi no Brasil. Na cidade baiana de Cachoeira é realizada no mês de janeiro de cada ano uma festividade em honra deste vodun, que é conhecida como “Boitá de Gbesen”.
Este atin é de extrema importância dentro dos preceitos mahis, tanto no Benin, quanto na diáspora, costuma-se evocar, colocar oferendas a Dangbe em volta de sua árvore, suas festividades também são realizadas ali sob a Mangueira. No Benin uma das árvores sagradas do vodún Dangbé é o Hun ou Hun'tin, termo fongbè, conhecida no Brasil por Folha de Serra, Falsa Espinheira Santa, Cincho, etc.

Delonix regia (Flamboyant)
O Flamboyant (Flor-do-Paraíso; Pau-Rosa; Acácia-Rubra) é muito encontrado por todo o Brasil, é uma árvore originária de Madagascar. Sua flores são belíssimas e costumam ornamentar ruas e praças. Este atin é muito consagrado a Oya e também ao Sàngó (Heviosso). É indissociável a figura do Sàngó da cultura nagô com o vodun Hevisso, observado que o culto de Ayrá origina-se de Savé Okpara, segundo Verger em sua obra “Orixás”, para os mahis apenas o nome e a forma de reverenciar é que muda um pouco, são ambos voduns do céu, do trovão e da justiça. Ao passo que Weleketi (Wleketi) dos ewes é consorte de Heviosso, é a Oya dos nagôs quem cumpre este papel na concepção Jeje Mahi, sendo Avlekete (Vlekete; Avelekete) um vodun da família de Heviosso que também é cultuado nas praias, daí a razão de “Afrekete”, como é conhecida em Cuba, ser título de Iyémojà (Iyemanja).



Raphia hookeri; Raphia Vinifera (Zan)
Existem muitas variedades de palmeiras de ráfia no Benin, e de uma forma geral, todas elas servem para a confecção de objetos de culto e de utensílios domésticos, e também na alimentação. Da maioria delas se aproveita as folhas para um trançado de cestos, cordas, esteiras, telhados de palha, etc. Elas são em geral denominadas de Zan pelos fons.
Também se utiliza a Raphia hookeri para a alimentação com a fabricação do “sodabi” (bebida alcólica tipo vinho; um vinho de palma); para os ritos de zangbeto, de espíritos de caçadores e guaridões da noite; os ritos de vodun, e de iniciação ao vodun, no Benin e na diáspora, enfim que envolvem a confecção de vestimentas e adornos elaborados com as folhas desta palmeira que também é conhecida pelos mahis, nagôs e iorubás sob a denominação de Iko ou Igi Ogoro, em gun seu nome é Apelle Kode ou Oba.
Durante período longo da iniciação os hun'sis (vodunsis; iniciados), além de aprenderem outros trabalhos e estudos religiosos aprendem a trabalhar artezanalmente a palha e a tecê-la, produzindo trabalhos para uso interno do hunkpame (vodunkpame; convento) e para serem vendidos fora dele de modo a angariar fundos que serão anexados nas despesas do mesmo. O convento é o local de preparo do indivíduo para a sociedade, e reintegração à sua família, tendo em vista a obdiência a ancestralidade como principal fator de coesão social.
Existem também a palmeira Hóxódé (Hohode) que é consagrado a Hoho entre os fons, os voduns gêmeos que representam a benção da duplicidade e prosperidade, muito conhecidos entre os nagôs e iorubás como Ibeji.

Elaeis guineensis (Detin; Ede; Igi Okpe)
Muito conhecido na Bahia como Dendezeiro. No Benin é conhecido como Detin em Língua Fongbe e no dialeto Gun (de Allada) que é uma variação do fongbe entre outras, e por Ede em adja. Os nagôs e iorubás denominam este coqueiro por Igi Okpe. Do fervimento se sua polpa surge o azeite-de-dendê (zomi ou ami-vovo dos fons; epò-pupa dos nagôs e iorubás). E do coquinho, o okwe conhecido pelos mahis, é preparado o adin (óleo de sòsò) e isto desagrada a Legba, sendo um legbasu (proibição de Legba; de su- proibição) porquê envolve a destruição do coquinho para seu preparo, e os coquinhos são sagrados de Fá, divindade da advinhação com a qual Legba colabora servindo de intermediário no Fá-Titê (Jogo do Okpele-Ifá em yorùbá), trazendo as respostas de Fá através da leitura dos dùs (destinos). Por isto Legba não gosta do adin.
Devido ao temor que se tem da divindade, as indústrias não costumam utilizar do coquinho de quatro orifícios, ou olhos, sagrados do Fá, e procuram usar nos processos aqueles que não servem para o jogo, com números de olhos distintos. O azeite-de-dendê movimenta uma boa parte do mercado de exportação e do mercado interno de muitos países do oeste africano. Ele é o óleo natural mais rico em vitamina A vegetal (b-carotenos) até então conhecido.
O dendezeiro, que dá frutos que servem ao ritual de advinhação, é consagrado ao vodun Fá.

Trichilia Heudelotii (jogbe)
Este atin de linda folhagem tem o poder de atrair o vodún em alguns rituais específicos.
É um atin muito sagrado e de suma importância nas tradições do culto de Fá Vodún.


 

AS ÁRVORES SAGRADAS DOS VODUNS (PARTE 2)

Foto de um Akoko no Benin.


Milicia excelsa (Iroko, Loko'tin)
Muito conhecida como Gameleira Branca, sempre presente nos terreiros de candomblé e consagrada ao vodun Loko, na Bahia e no Rio de Janeiro, (Iyoko em idioma yorùbá e nagô). Devido a sua ser sua morada os mahis consideram Loko o vodun atinmé, ou seja: O vodun dentro da árvore; e o nagô o visualiza em uma escultura confeccionada da própria madeira do Iroko.
Na floresta do rei Kpassè, fundador de Ouidah, palavra fon originada de xwéda /Kwê dan/- casa de Dan, que significa reino, existe um antigo e espesso Iroko que lhe é dedicado, pois segundo a crença local o rei teria certa vez se transformado em uma destas árvores para escapar da perseguição de seus inimigos.
A presença desta árvore sagrada sugere afastar infortúnios diversos, principalmente acidentes, má sorte, pandemias e epidemias, e é muito utilizada para conjuros deste tipo, além de ser medicinal.
Os mahis do Benin cosagram a Gameleira branca como morada dos seguintes voduns: Dan, Toxwyo, Loko, Òsò e Iyami Aje, Sakpata, Hevioso (heviosso) ou Hebioso, Djigali, Adadjogbé, e Gu. Os Gen (Mina) a associam também a outras divindades. No Brasil é principalmente consagrada a Loko. Por se considerar uma árvore também consagrada a divindades relacionadas com feitiços e perigosas de se evocar como Òsò e Iyami Aje, não se passa e não se fica exposto a este atin no cair da noite, considera-se que é a hora dos feiticeiros chegarem. Existem preceitos de confecção de talismãs com sua madeira e com suas folhas que são pintadas com pontos brancos e fixadas em entradas de residências para afastar doenças e epidemias.

Adansonia digitata (Baobá, Mutê, Akapassa'tin)
Muito encontrada da África e conhecida como a “árvore da longevidade”, de espesso tronco, o Baobá é muito utilizado na alimentação e na medicina natural. Os clans otamaris que o denominam de Mutê, Muto ou Mutomu, consideram o aparecimento de um Baobá em seus sítios um sinal de alerta que sugere uma consulta ao oráculo de Fá, pois evidencia-se uma supeita de doença ou de envenenamento de alguém daquela casa, tendo que realizar preceitos rituais. Estes clans também realizam cerimonias de iniciação de seus jovens sob um Baobá. Dentre os mahis o akapassa'tin é consagrado ao vodun Sakpata. São encontrados nos conventos de voduns (vodunkpame ou hunkpame) na África muitos outros tipos de árvores que também envolvem ritos de iniciação como a Gardênia (Gardenia erubercens) e o Falso Ébano (Diospyros mespiliformis), no Brasil muitas outras espécies de atin foram relacionadas a cultura dos voduns pelo fato da flora não ser idêntica
à da terra-mãe, então tiveram que ser substituidas algumas por outras aqui encontradas com alguma similitude para que houvesse correspondência entre aspecto-vodun ou vegetal-vodun, a Jaqueira ou Apaoká (Artocarpus integrifolia; Artocarpus heteropyllus), muito comum no Estado da Bahia, planta originária da Malásia e trazida pelos portugueses no Brasil colonial, é sem dúvida um exemplo disso aqui, nela se construiu uma relação íntima com o vodun Sakpatá e o com òrisà nagô Omolu.

Newboldia laevis (Ahoho; Akoko; Igi Iyami; Hunmatin)
O Ahoho é um arbusto, rico em proteínas, possui propriedades sedativas, e é um dos “huntigomé”, ou seja: Atin onde é, de uma forma geral, cultuado Gu, o vodún guerreiro e dono do ferro e do gu-wui, seu sabre sagrado e símbolo de um rei; o termo “huntigomé” se perdeu em Cachoeira, Bahia, onde ficou substituído pela palavra “jassu” em alguns candomblés de Jeje Mahi.
Este arbusto é muito conhecido no Brasil pelo nome de Acocô, entre os mahis pelo o nome de Ahoho, entre os minas por Hunmatin, e entre os iorubás e nagôs como akoko ou Igi Iyami (termo mais para a Nigéria), onde eles costumam cultar o òrisà Ogun (Gu entre entre os fons) à sua sombra, porquê viajante e expedicionário, Ogun sempre descansava sob este atin à beira da estrada. Utilizam-no também como cercas delimitando espaços, e como forragem, exceto para cavalos, quando ainda pequenas e tenras suas mudas.
A tradição dos mahis no Brasil faz com que se coloque um pequeno galho ou folhas de ahoho presas ao corpo, e quiçá alusivamente à arruda dos portugueses, atrás da orelha, ao se deslocar em viagem, de um lado para outro, e mesmo para ir se entregar uma oferenda em local distante, este comportamento é a certeza da proteção do vodum durante os percursos de ida e de volta. Quando do retorno, retira-se e despacha-se.
Suas folhas são sagradas e representam prosperidade para a obrigação de sete anos de vodunsi, junto com a folha conhecida por Oniferé, a folha do ahoho também representa a proteção de Gu na trajetória de suas vidas pelo mundo. São folhas também relacionadas com rituais de purificação, principalmente no Benin.
As crenças africanas costumam mencionar que Gu costumava descansar sob o Ahoho em suas longas caminhadas. Este vodun é representado por qualquer peça de ferro depositada sob o atin, e é ali que recebe suas oferendas votivas.

Afzelia africana (Afzelia)
Esta árvore é muito encontrada também nos conventos de voduns, e além de possuir propriedades medicamentosas em associação com outros vegetais, inclusive no tratamento da trypanosomiasis, lhe é conferido o poder mágico repulsivo de maus espíritos, assim como conferem tais poderes à Ceiba petandra (Sumaúma), "Gédéhunsu" em Mahi, além de muitas outras, que também é encontrada na Amazônia, sendo a maior árvore, e chegando a atingir 65 metros de altura.
Em Regla de Arará (Rito de vodun cubano e originário de Alladá) a Ceiba petandra (Sumaúma) é atribuída ao vodun Aremú (Obatala para os nagôs). Os ritos de origem iorubá em Cuba denominam-a “Igi Olorun” (Árvore de Deus), Igi Araba, Eluwere, Asaba, e até de Iroko. A Regla de Arará também relaciona este atin com as seguintes divindades: Heviosso, Nanan, Loko, Awuru, Magala, Yemu e o próprio vodun Loko.
Não existe um conhecimento litúrgico sequer que esteja desassociado do conhecimento popular medicinal de qualquer vegetal no vodún sinsen (culto aos voduns). Os métodos científicos de hoje são aplicados na pesquisa de reconhecimento das substâncias que curam e que estão contidas nas plantas de uso no culto. O vegetal de tal vodun é o mesmo que encerra tais poderes mágicos para tal efeito, e possui tal aplicação medicamentosa ou não, podendo ser medicamento ou veneno, para seres humanos, animais, ou determinados indivíduos de tal espécie.

Bombax Costatum (Dehuama)
Esta árvore é muito comum na África do Oeste e possui lindas flores; é um atin de grande porte que chama atenção pela imponenência e pela beleza.
Está associada com a remoção temporária da virilidade masculina, reduzindo e controlando o desejo no homem, inclusive nos períodos de reclusão religiosa. Tal formulação é segredo do vodunnon.
É conhecida pelo nome de "dehuama" (derruamã) pelos Mahi.

AS ÁRVORES SAGRADAS DOS VODUNS (PARTE 1)

AS ÁRVORES SAGRADAS DOS VODUNS

A presença do negro daomeano, oriundo do antigo Dahomey, atual Benin, e sua integração na formação do egbe, termo iorubá que significa sociedade, candomblesista, introduziu o culto as árvores sagradas ou atinsa, do fongbe atin (árvore), e seus rituais específicos segundo o vodun ao qual determinada árvore pertence, por características próprias, lendárias e étnicas, pois na Mãe- África a designação do atinsa é de acordo com o conhecimento próprio do grupo étnico. Os atributos materiais e espirituais do ser vegetal são diretamente proporcionais à gama de conhecimentos que se tem do vodun, ou voduns, em que no mesmo é reverenciado.
A visualisação da dinvindade na forma do atinsa não é exclusividade dos fons, mas no Brasil, graças aos fons/mahis e seus descendentes, savalunos de Cachoeira, Bahia, e Alladanus introduzidos no Rio de Janeiro, uma boa quantidade de árvores existentes em nossa flora é preservada para a prática do Candomblé da nação Jeje Mahi, e da não existência de muitas delas como observadas em seus habitat natural, a substituição por atins com alguma similitude na espécie.
No Benin atual a preservação ambiental é promovida por um conjunto de fatores sócio-culturais implicando o envolvimento de uma diversidade social de grupos, além das ações governanmentais, e onde existem sociedades secretas como as Sociedades Oro; Kuto; Gelede e Zangbeto, que zelam por seus zuns (de zun, floresta em fongbe) sagrados e de caráter iniciático, onde somente é permitida a entrada de pessoa do culto e vedada a entrada de indivíduos não iniciados ou alheios ao culto, a não ser com o concentimento do chefe local, para iniciar ou ofertar por exemplo o vi (obi abata, noz de cola), frango e sodabi (uma bebida local) a divindades, por determinação do próprio culto, estas sociedades são bem cohecidas sobretudo na região dos mahis, cumprem um papel social muito importante que é o de preservar a ordem na população, orientar para a solução de problemas comunitários e até de punir quando necessário, são sociedades de culto aos antepassados.
Ainda no Benin existem florestas-cemitérios que são local de sepultamento de corpos de pessoas que morreram em decorrência de acidentes, ou de doenças infecto-contagiosas, como a varíola, são locais com centenas e centenas de anos de existência e destinados a tal finalidade. Muitas ofertas são depositadas nestes locais por familiares, descendentes e adeptos do culto principalmente de Sakpata, vodun da varíola. A caça nesta floresta é proibida, como são proibidas todas e quaisquer atividades que visem por em risco o meio-ambiente sagrado dos mortos. São locais de adoração e mantidos pelo próprio povo que repeita a memória de seus antepassados e o poder de suas divindades.
O Candomblé de Jeje Mahi encerra em seus preceitos ritualísticos muito da propriedade cultural da qual é descendente, o respeito ao meio ambiente, a preocupação com as matas e rios, o fazer o ritual sem por em risco a mata, as águas de uma forma geral, sabe que alí é local sagrado. O fato de se comemorar as festividades em torno de atinsas e beiras de recursos mananciais é oriundo de seus costumes africanos, pois ali é morada, de um ou vários voduns, de uma família de voduns, ou de um ou vários de seus antepassados, sabe que é preservando a vida que se preserva a memória e vice-versa. Se alguém dentro da sociedade se aventura em descumprir a ordem de zelo, sabe que estará sujeito as sanções disciplinares, podendo ser expulso do egbe, responder por um dano que por ventura houver, e mais do que isso, desagradar ao vodun ou ao antepassado, que o julgará e o punirá a proporção do dano que foi produzido.
Um outro outro conceito sagrado de florestas para os daomeanos, são aquelas específicas para cada vodun. Existem no Benin florestas para o culto de Heviosso; Dan; Sakpata; Aydohwedo; Legba, Omolu; Hoho; Lissa; etc. Tais florestas são denominadas vodunzun, que não possuem acesso restrito, e são dedicadas a cultos específicos de um vodun ou grupo de voduns, são guardados os princípios de respeito as tradições e preservação do patrimônio místico-hitstórico-ambiental pela população local. Da totalidade das florestas hoje existentes no benin 60% (sessenta por cento) da totalidade são vodunzun, 21% (vinte e um por cento) são das sociedades secretas e 8% (oito por cento) são florestas-cemitérios.


 

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Filosofia do Vodún.

Sé e Gbé; a dinâmica da existência entre os Fons.
Basile Tousssaint Kossou (O Pensamento Universal; 1983)
Reflexões sobre uma Metafísica (E Suas Relações)
(Traduzido por Ifabimi)
Por que não falarmos sobre Roger Bastide e, especialmente, Pierre Verger ( nascido em Paris em 1902, morto em 1996, em Salvador da Bahia)? Maior deve ser ir ao essencial Sé, além da descrição de Cultos de Voodoo e Candomblé no centro das atenções neste ano de aniversário para a invenção do Brasil, mais eles permanecem, primeiro fotógrafos da religião de orixá, convicções Yoruba-Nagô, fluxo e refluxo do tráfico de seres humanos; e transumância; no Golfo da Guiné, na Bahia e o retorno; notas de tiburcio Dos Santos, escravo de Ouidah; e a imagem de Oxumarê, transformará ... pelo rito purificatório do sudidè, ou de imersão no oceano? Olhos do rei (oyu-OBA). Verger era também um Babalawo (pai do segredo) dos mais prestigiados do culto do Ifá (ketu onde foi iniciado, ele se tornou um dos renovadores do culto de OXÓSSI, deus da Caça. Foi também o autor de Ewe, uma coleção mítica, a mais colossal das iorubás nas práticas medicinais, e este é outro que não resumiu o quadruplo (sextuplo, etc) sempre em função da Soul One.
Em introdução, Kossou aluno de Thomas, que denominou por 55-62 anos, a Escola Filosófica do Cabo Verde (N'krumah, Seck, Towa, Lalèye etc) foi um dos principais pensadores Africanos sobre a conduta inicial em uma reflexão dos conceitos fundamentais do pensamento Fon: Sé e Gbé, princípios criadores da vida e do mundo, e do surgimento de um pensamento africano, que não existe parcelado, senão totalmente assimilado em uma Negritude de não muitos intelectuais e economistas, e que tem dificuldade a sua chegada. Neste sentido Senghor fez muito dano à toda África, como Césaire no Ocidente. Mas este é um outro assunto .... Kossou teve o mérito de realizar este estudo, não só pelo o único quadro, o da Saga Ancestral limitada, mas pela mistura na reflexão filosófica sobre seus próprios direitos autorais envolvidos no Mundo moderno. A filosofia Fon (Benin) / Yoruba (Nigéria) é uma filosofia original e poderosa, duas correntes que estão intimamente ligadas à sua origem (Yoyo), na Nigéria, e sua expansão a oeste a Tado (Bacia do Mono; Ewe; e do grupo do Togo) para o leste a Ajace (Porto Novo) e, especialmente, ao Centro que se tornará o reino de ABOMEY, (no original Danxomé) Dahomey posteriormente, e agora Benin, nunca esquecendo que a verdadeira província do Benin, Cidade do Benin, foi Nigéria, o berço original, sem esquecer que a verdadeira Universidade do Benin é Calavi Cotonou, e não a decadente capital Lomé do Togo. Este novo nome é pós-Revolução de 72-76, com todos os problemas que a Nigéria, pasmai, do Benin, sem dizer que também gostaria de encontrar apelação tanto no nome original que é portador de significado, danxomé- a partir do útero da Mãe (Real). Na Nigéria, no Benin, existem vários outros locais que contam com o quadro legislativo aguardando algumas pequenas prerrogativas históricas.
Esta 'Filosofia' é caracterizada pela dinâmica do conceito de dualidade, um TAO de qualquer forma: O Sé é o princípio vida universal, anima o Gbé: Mundo cujo homem, gbété, significa o privilegiado desta Cosmogenia. Os ritos que muitos passam em sua existência: ritos de fecundação, nascimento, nomeação, aliança, uma morte inevitável. O Fá através do qual o adivinho (bokonon) decifra para cada recém-nascido até Kù (a morte) tecer a sua vida, morte física, que atinge a todos os homens pela maldição, pela feitiçaria (azé), pela doença, etc. É o que nos liga ao pateón vodun. 'O Panteão é a representação do Supremo Criador (Gbédoté), Razão transcendental.
Os pais-sacerdotes, consagradores dos inúmeros deuses são mediadores, as florestas sagradas, as árvores, são surpreendentes atalhos entre o mundo vivo e o seu criador, no qual ele se personifica. Tantos conventos de vodun, demonstra o forte empenho a esta corrente Vitalista. Interligando Arte Barroca e descriptografia recordou que, por vezes estranhamente O Rei e o Hexagrama Chinês (I Ching) da Sé durante o movimento morre, mas não extingue a sua retomada pura, idade de 'essência da vida. Quando percorreu o homem, trata Blurs, os aspectos individuais, ambos, princípio e porta devem assim como a Morte, se tornarem evidentes devido a porta da vida. Neste tipo de filosofia, em Kossou, cada vida humana deve cumprir sua Sé que ela usa, ou seja, indefinidamente têm conseguido dizer a atual torrente humana original e universal.
Estamos, a priori, longe de revelar religiões e civilizações como no Leste, para poder falar a bordo da Sabedoria. Isto explica também indubitavelmente, pelo menos em parte, para além dos marxista-maoísta parentesticamente no país, ou de fácil adaptação Asiática no Benin, e de sua 'filosofia' perpétua, porém, que esse ir e vir entre a natureza e o espírito (Bergson) é uma ginástica um pouco difícil para os ocidentais alimentados por Hume; Locke; Descartes; Kant, e portanto, é essencial a atenção para esta Sabedoria Ancestral, onde muitos daqueles que continuam a praticar da Costa do Marfim aos Camarões perfazem um potencial de cerca de 200 milhões de habitantes . Ela também traz a antiga Empírica.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

O Ciclo Lunar Fon e o Destino



Enquanto dù (kpoli) pode traçar um augúrio de forma definitiva na vida de uma pessoa (os olhos abertos de Gbadù), o dia em que a mesma nasceu traça uma fase importante dentro de sua vida que pode não estar refletido dentro de seu dù principal (kpoli). Este dia está incerido, na cultura Fon, dentro de um calendário lunar denominado Fé Zan, que consta de ciclos lunares de nove dias. Estes dias são muito levados em conta para se tomar decisões, contrair matrimônio, realizar preceitos de vodum; etc. O próprio Fâ-titè é consultado em dia apropiado.
Mêdjô- É o primeiro dia da semana; Simboliza o início de um ciclo, e quando se quer que um empreendimento perdure, dê certo, é aconselhavél iniciá-lo em um medjo que coincida no calendário gregoriano com uma quinta-feira.
Mêku- É o segundo dia; o dia da morte; não bom para se iniciar empreendimentos, contudo ótimo para se reverenciar ancestrais defuntos;
Vodun- É o terceiro dia; este dia é dedicado exclusivamente aos voduns e se coincidir com um domingo é um ótimo dia para realizar iniciações e se realizar preceitos ritualísticos. O domingo é considerado dia do Vodun.
Azôn- É o quarto dia; dia da doença; quem nasceu neste dia deve realizar preceitos para afastar a doença e a morte; não é um bom dia;
Vô- É o quinto dia de um ciclo lunar; pode até ser um bom dia, porém, sugere que sejam feitos sacrifícios para se alcançar objetivos na vida, do contrário a ineficácia de um projeto, por exemplo, estará assegurada; é um dia que se pode lançar um mal ou retirar uma praga sobre alguém;
Hwê ou Akouè- O sexto dia é um mal dia; é o dia da enxada; o dia do julgo; da eficácia de um sacrifício; sugere conflitos diversos, disputas, e maus presságios; o sacrifício é muito importante para eliminar os males diversos; é receptáculo de Vô;
Bo- O destino; é o sétimo dia; representa o resultado do conflito da enxada, o após a contenda; representa o destino que pode ser bom ou mau; é um ótimo dia para se tirar a sorte de uma forma geral que pode ser boa ou má, principalmente se coincidir com uma terça-feira;
Hên ou Fo- O oitavo dia é o dia da miséria; dia desaconselhável para se iniciar algum empreendimento;
Fâ- É o nono e último dia do ciclo lunar de nove dias: este dia é exclusivamente dedicado ao Fâ-titè; dia de se receber as orientações do Fá.
Observamos que o calendário gregoriano também é considerado, e quando surge a correspondência de dias as considerações são simplesmente reforçadas.
O calendário lunar, mesmo após a introdução do calendário gregoriano pelo europeu, não ficou esquecido, pois é fonte de conhecimento espiritual. A própria aposição de nomes de nascituros, correspondem, além dos Clãs, as recomendações do dia do nascimento no Ciclo Lunar ou mesmo no calendário atual, visto que à este último foram incorporadas as atribuições dos dias Fé Zan.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Milicia excelsa (Iroko; Loko'tin)

Muito conhecida como Gameleira Branca, sempre presente nos terreiros de candomblé e consagrada ao vodun Loko, na Bahia e no Rio de Janeiro, (Iyoko em idioma yorùbá e nagô). Devido a sua ser sua morada os mahis consideram Loko o vodun atinmé, ou seja: O vodun dentro da árvore; e o nagô o visualiza em uma escultura confeccionada da própria madeira do Iroko.
Na floresta do rei Kpassè, fundador de Ouidah, palavra fon originada de xwéda /Kwê dan/- casa de Dan, que significa reino, existe um antigo e espesso Iroko que lhe é dedicado, pois segundo a crença local o rei teria certa vez se transformado em uma destas árvores para escapar da perseguição de seus inimigos.
A presença desta árvore sagrada sugere afastar infortúnios diversos, principalmente acidentes, má sorte, pandemias e epidemias, e é muito utilizada para conjuros deste tipo, além de ser medicinal.
Os mahis do Benin consagram a Gameleira Branca como sendo a morada dos seguintes voduns: Dan, Toxwyo, Loko, Òsò e Iyami Aje, Sakpata, Heviosso (Hebiosso), Djigali, Adadjogbé, e Gu. No Brasil é consagrada a Loko. Por se considerar uma árvore também consagrada a divindades relacionadas com feitiços e perigosas de se evocar como Òsò e Iyami Aje, não se passa e não se fica exposto a este atin no cair da noite, considera-se que é a hora dos feiticeiros chegarem. Existem preceitos de confecção de talismãs (gris-gris) com sua madeira e com suas folhas que são pintadas com pontos brancos e fixadas em entradas de residências para afastar doenças e epidemias.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

O Jogo do Ikin

No princípio da existência do mundo, tudo estava desordenado; as estações do ano; co-existiam noite e dia; frio e calor; e assim sucessivamente. Foi então que Legba que era incumbido de abrir os olhos de seu irmão Gbadù (Fá) todos os dias, notificou a Mawu, a grande mãe, de tudo que estava ocorrendo no mundo, e solicitou que Mawu enviasse seu irmão Gbadù para resolver toda essa desordem que estava acontecendo no mundo, porém, sua mãe disse-lhe que ele não poderia ir, pois tinha procriado no céu, quando teriam nascido Minona e mais duas filhas, e também Aovi, Abi, Dùwo, Kiti, Agonukwé e Zose, que eram do sexo masculino. Após Legba insistir muito, Mawu decidiu que o que poderia fazer era levar a palavra de Gbadù através de três de seus filhos, Dùwo, kiti e Zose, para que o mundo começasse a se reorganizar, mas que Legba fosse o intermediário nesta palavra e continuasse comunicando tudo à sua mãe.

Mawu disse a Legba que antes da ida das crianças ao mundo, seriam orientadas sobre o que deveriam ensinar, cada uma, aos homens, fazendo-os saber qual dos dezesseis olhos de Gbadù teriam sidos abertos no dia em que nasceram, revelando seu kpoli (destino) de acordo com as posições de caída dos ikins, e à partir daí, seria dada toda devida recomendação e sob os olhos de Legba. E assim ficou decidido. Após um período de avaliação e de proveitoso aprendizado dos homens com as três crianças, Mawu resolveu enviar também os outros filhos de Fá, para que também ensinassem aos homens outros métodos para se buscar a devida orientação; assim Aovi ensinou-lhes a manipulação do vi (Obi Abata), e assim sucessivamente.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Os Dùlé do Vodún Fá - Os odus de Ifá

Legba é o intermediário na consulta à Fá, o vodún (vodun) do destino, é ele quem traz as mensagem, e indica o preceito que deve ser feito, ou mesmo o que não deve ser feito, para a resolução de um problema, ou mediante uma questão.
Os voduns respondem através deste caminhos revelados no Fá-titê (consulta ao Fá) e não estabelecem necessáriamente uma ordem de respostas correspondente aos awon òrisà (orixás) nagôs ou iorubás, há os que tecem correspondência e há os que não correspondem a estas divindades, mas estão presentes no sistema. Djogbe Medji governa o dia e encarna o espírito de Lissa, ao passo que Yeku governa a noite e encarna o espírito da grande mãe Mawu; as divindades da terra, ayi vodun, correspondem ao Fá dù (kpoli) Losso Medji; as divindades das águas, tò vodun, correspondem ao Fá dù Sa Medji, juntamente co-existem divindades nagôs e iorubás. Tòxósú (Tohosu) fala nas águas, onde é rei, mas sua presença é sempre indicada por um segundo Fa dù que corresponde a qual Tòxósú que fala.
O sitema é de 256 dùlé, sendo considerados 16 principais que se combinam entre si. Os 16 principais são:
Djogbe Medji ou Gbe Medji; Yeku Medji; Woli Medji; Din Medji; Losso Medji; Wlin Medji; Abla Medji; Aklan Medji; Guda Medji, Sa Medji; Ka Medji; Trukpin Medji ou Lelu Medji; Tula Medji; Lêtê Medji; Tche Medji; e Fu Medji. Esta é a ordem de chegada de cada dù principal.
Um ditado fon diz: "A ké nù dó gbè, Wú hún Fá né à yóló né gbé õ, Fá we nyí, Fá kan nyí gbè. (Se você comentar sobre a voz, significa que a chamas de Fá, porquê a voz é o Fá e o Fá é a voz). Quer dizer que na realidade quem fala é o vodun Fá indicando o vodun e a mensagem no caminho indicado que Legba traz.
Existem outras formas de consulta aos vòdúnlé (voduns), porém, o mensageiro é sempre o mesmo. Este é um dos principais papéis desempenhados por Legba.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Legba

Legba é o filho caçula de Mawu, de seu sétimo parto, que não herdou domínios no universo criado por seus pais quando houve partilha entre seus irmãos mais velhos, porquê ainda era muito criança para poder governar alguma parte da criação, porém, ficou incumbido de observar de tudo o que se passa na criação, nos governos de seus irmãos, entre seres humanos e no mundo espiritual, e tudo que houver, ver e ouvir, comunicar a Mawu.
Um vodum muito brincalhão, astuto, genioso, e por vezes vingativo. De raríssima inteligência.
Conta uma lenda que por não receber nenhum agrado após ter enchido de clientes um mercado, ele criou uma serpente e mandou que a mesma mordesse todos naquele mercado, e assim foi, só que um dia a serpente, de tanto morder, se esqueceu e mordeu ela mesma, então, procurou Legba para curá-la, para tal ele pediu um agrado, e ela lhe ofereceu akwé (dinheiro) então ele foi ao mercado e comprou ami-vovo (azeite- de-dendê) para beber, e se foi todo feliz.
Encontrando com um amigo pelo caminho, que lhe perguntou que bicho era aquele que mordia todo mundo no mercado, Legba sorrindo disse que era azé (feitiço) que ele sabia fazer, e que se o amigo quisesse, fizesse um feitiço sob encomenda, mas lhe oferecesse dois frangos, oitenta cauris, e outras coisas mais...e eis que imediatamente Legba ficou conhecido como grande feiticeiro naquele lugar.
Esta lenda do antigo Dahomey ilustra bem a figura de Legba e por que deve ser sempre reverenciado antes de qualquer ritual dentro do Candomblé.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Vodún e Meio Ambiente

As culturas fon e ewe estão intimamente relacionadas, o termo vodú é de procedência ewegbe, enquanto o termo vodún é de procedência fongbe. O Jeje Mahi possui muita influência da cultura ewe, além do nagô e de sua dialética, mas principalmente da cultura fon que é sua base, sem dúvida.
Os ewes visualizam seus voduns em terracotas dispostas em seus altares, que denominam "wen zen", na realidade são potes de barro decorados conforme o vodún ao qual pertencem e que encerram materiais ritualísticos diversificados de acordo com a divindade ali reverenciada, seria uma forma de poder mudar o local de culto de um lugar para o outro, talvez um costume introduzido em tempos de guerra com outras etnias, há também terracotas antropomorfas e zoomorfas representando voduns, e também fazendo referência a lendas, quase sempre presentes em ritos ewes. Os fons do gbè utilizam esse argumento de visualização em parte, não de uma forma geral, pois de forma geral o vodún fon é cultuado na natureza, nas águas, na terra e no atin (árvore) principalmente, daí o culto ao vodún passa a ser um protetor do meio ambiente, como acontece no Benin nos dias de hoje. Para se ter uma idéia no lago Azili, onde é cultuado o vodun Azili, a cerca de 200 km de Cotonou, não se lava nada com sabão, nada com pigmentos, nem mulher menstruada, nem pessoas com vestes vermelhas, que lembram sangue, atravessam o lago sagrado, pois o vodún proíbe tais atos. O resultado destas e outras proibições é que as águas do Azili são puras, podemos, inclusive, beber dela. As florestas da mesma forma, tidas como sagradas, passam a garantir a sobrevivência de inúmeras espécies de árvores e animais sagrados, muitos dos quais em extinção no globo, e consagrados aos voduns.

Lago Azili (foto de Wikipedia)

domingo, 6 de julho de 2008

O Jeje Mahi em Fase de Resgate Cultural

A nação Jeje Mahi tem sido na última década objeto de resgate cultural, entendido o candomblé como um conjunto de tradições, portanto uma cultura tradicional, diferentemente da Umbanda que é uma cultura popular e sofre rápidas e enormes aculturações. Acontece que muitos pesquisadores no afã de obter e divulgar as informações, sem um breve e bom conhecimento do que é uma cultura, em termos antropológicos, não conseguem captar as informações primordiais: A localidade e a formação étnica de origem desta cultura mahi no continente africano, e acabam por propagar termos e difundir ações de etnias paralelas aos mahis, que lhes influi, mas não lhes dão ênfase. Temos todos que primeiramente compreender que o Mahi vem do Gbe, um território cultural situado entre fons, ewes e awön yorùbá (Iorubás), uma região de sustento econômico para as etnias a seu derredor e onde vivem os nagôs. Jamais poderemos compreder voduns do Mina Jeje no Brasil como voduns mahis, existem voduns oriundos da Costa da Mina que são agregados em casa de Mahi, assim como no Mina existem voduns mahis agregados, o que acontece também com os awön òrisà (orixás), há os propriamente oriundos do gbe, englobados pela cultura mahi e os que não são do gbe e podem ser agregados em uma casa mahi, isto acontece no Brasil com a Casa de Nagô e o Nagô Vodum, formação que tende muito as tradições nagôs.

sábado, 5 de julho de 2008

Jeje Mahi e Nagô Vodum.

Em Mahi após o joá, primeira obrigação (bori) do kajèkaji (neófito), ocasião em que o mesmo se torna um joási (borizado), vem a iniciação, a feitura do vodún e um ano após se torna um hunsi ou vodunsi, ou seja : Um iniciado. As obrigações de ano da nação são de um e de sete anos de feitura, em Nagô Vodum, dá-se segundo o modelo ketu, com o qual se mescla culturalmente. Jeje Mahi não inicia para certas divindades de origem de culto fora do gbe, como acontece com o Ketu, que mesmo estando no gbe reverencia sua origem yorùbá. Osun Okpara e Sàngó Ayrá, cuja origem de culto está em Save Okpara, cidade da Chapada dos Mahis, são reverenciados, já outros títulos de Osun e de Sàngó de origem yorùbá, por exemplo, são encontrados no culto Nagô Vodum, que por ser muito mesclado ao culto dos nagôs, utiliza igbas, louças, etc, em seus acentamentos de modo a simbolizar a divindade ali reverenciada, as gayakus são as mães-no-santo do culto Nagô Vodum. Em Mahi só há símbolos e a representação do vodún é o pé-de-árvore ou "atin", ali são louvados os voduns e todo preceito de preparação do iniciado envolve o atin, o único vodún que é realmente acentado e preso é o grá (tradição mahi de Cachoeira, BA).
Uma gayaku pode ter sido feita no Mahi, mas ter tomado obrigação em Nagô Vodum e acentado sua divindade. Uma doné, ou mejitó pode ser uma gayaku, assim como uma gayaku pode ser uma doné ou mejitó desde que tenha recebido obrigação de seu vodún em Jeje Mahi.