terça-feira, 23 de agosto de 2011

Os Primeiros Escravos Africanos no Brasil.



                        O Forte de São Jorge da Mina. Foto em: tlaxcala.es


Na terceira década do séc. XVI já se reclamava da carência de mão de obra escrava africana no trabalho canavieiro implantado em Pernambuco, já que os índios estavam revoltosos com os colonos. Mas de onde? Em que época vieram os primeiros escravos para o Brasil?



                              "S. Jorge da mina: Mina de ouro e escravos"



"A fortaleza de São Jorge da Mina, a primeira feitoria portuguesa na costa ocidental da África, foi construída com o objectivo de escoar e defender o ouro que das ricas regiões auríferas do interior era enviado para o litoral. Posteriormente, torna-se o primeiro entreposto de escravos da era moderna e o pólo a partir do qual os reinos do Benim e Daomé seriam dizimados. Os primeiros escravos levados para o Brasil, em 1533, partiram daqui.

Em 1486, São Jorge da Mina recebe carta de foral, o que contribui para que as populações locais se coloquem ao serviço da feitoria, auxiliando os Portugueses no comércio, nas incursões no interior e na luta contra a pirataria. A Mina torna-se o principal estabelecimento português em África, fonte de abastecimento do ouro que se tornaria o motor da economia portuguesa até se iniciar o ciclo da Índia, após 1498. Ganha fama internacional e desperta a cobiça dos reinos europeus.

Ao longo do século XVI, ataques de piratas franceses aos navios portugueses no regresso da Mina começam a suceder-se, para além de tentativas de tráfico de ouro na Mina. Arredados os Franceses, chegam os Ingleses, que, depois de conseguirem algum ouro, cessam as suas operações. Vêm de seguida os Holandeses, já no século XVII. A partir do Brasil – e tirando partido da perda de independência de Portugal – os Holandeses enfraquecem o monopólio comercial português na região e, com uma bem armada frota, conseguem dominar as quatro dezenas de militares doentes e mal armados da guarnição portuguesa de São Jorge da Mina. Por volta de 1637, chegam ao fim 150 anos de domínio português.

Depois da saída dos Portugueses, o negócio do tráfico de escravos torna-se mais rentável que o do ouro, uma vez que a colonização da América acarreta grande procura de mão-de-obra. O tráfico de negros atinge o apogeu no século XVIII e afectará 12 milhões de africanos. Esta época caracteriza-se, também, pelo crescimento de vários Estados no golfo da Guiné, eles próprios beneficiários dos enormes lucros obtidos com o tráfico de escravos. Em 1850, o comércio de escravos é proibido no Gana, quando o Reino Unido domina o território."

«Porta sem retorno»

"Desde 1972, quando a UNESCO reconhece o Castelo de São Jorge da Mina como «Património da Humanidade», começa a haver peregrinações ao local. Alguns dos visitantes procuram um sentido para o seu passado, uma demanda que se tornará conhecida por «Turismo de Raízes». A história do comércio de escravos torna-se tangível não só pelo ambiente, pela localização, mas pela própria possibilidade de «visualizar» uma parte do tráfico de escravos. 

O Forte tem uma área maior e um mais intrincado complexo de estruturas que outros fortes do Gana. Os espaços internos das muralhas do castelo foram destinados a aposentos de governadores, alojamentos de oficiais e refeitórios, instalações de cozinha para os criados, masmorras masculinas e femininas para os escravos, salas de comércio e vendas, celas de prisão, armazenagem de munições, igreja, quintais e terraços, torres de guarda e canhões. Das torres, a vista sobre a baía é de uma beleza rara: predomina o azul do mar, das embarcações e das casas.

Ao entrarmos, iniciamos uma estranha viagem. No largo defronte ao castelo, grupos de rapazes perguntam-nos o nome e, não satisfeitos, pedem que o escrevamos num papel. De seguida, uma guia leva-nos a tomar conhecimento de como as mulheres escravizadas eram violadas pelos comerciantes, governadores e oficiais europeus, dos tipos de tortura infligidos aos presos rebeldes, da presença e do papel da Igreja: sim, a Igreja possuiu os seus próprios escravos, apesar das várias vozes que dentro dela se opuseram à escravidão; mas também dos pontos de interesse arquitectónico, dos aposentos espaçosos dos governadores e oficiais nos andares de cima; assim como do mau cheiro e do horror das masmorras subterrâneas e da «porta sem retorno», através da qual os africanos escravizados eram levados para os navios que os esperavam, para nunca mais voltarem. Relatos incómodos para quem antecipadamente se apresentou como português. A guia tem o cuidado de nos referir que «tudo isto é passado».

A maior parte dos espaços por onde os turistas passam está vazia. Isto significa que os visitantes têm de imaginar como teria sido (sobre)viver aqui. No fim percebemos o porquê dos jovens nos terem pedido o nome. Somos prendados com o nosso nome, numa caligrafia impecável, desenhado em conchas. Em troca pedem-nos algumas moedas, de preferência euros."








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